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Por que o uso de pagamentos em tempo real está disparando no Brasil?

terça-feira, março 11, 2025

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Quando se trata de pagamentos em tempo real (real-time payments, RTPs), a Índia é a referência mundial. Embora a quase 15.000 km de distância, o Brasil rapidamente se tornou um novo modelo global de sucesso.

Desde seu lançamento em 2020, o sistema de pagamento por Pix do Brasil já transacionou quase R$ 60 trilhões, com uma base de usuários de mais de 800 milhões de pessoas.

Em 2024, as transações somaram R$ 26 trilhões - um crescimento de 54% comparado a 2023.

O que é impressionante sobre esses números é que a América Latina, como um todo, é histórica e predominantemente uma região baseada em dinheiro. Muitos bens e serviços são pagos em dinheiro, especialmente nos estabelecimentos comerciais menores.

Como o Pix alcançou esse nível de penetração no mercado em apenas 4 anos?

Velocidade, gastos e saturação de mercado

O sucesso do Pix começou durante a pandemia da covid-19, quando houve uma aceleração dos pagamentos sem contato. As experiências de compra passaram a ser on-line, as transações de comércio eletrônico começaram a decolar, e os brasileiros puderam transferir dinheiro instantaneamente.

Consumidores e empresas confiaram em três fatores: conveniência, eficiência de custos e velocidade.

Em matéria de velocidade, leva cerca de 7 segundos para processar um pagamento em tempo real. Isso é um grande estímulo, não apenas no Brasil, mas em todo o mundo.

Com mais de 70 países em todo o mundo tendo incorporado RTPs, o apelo de enviar e receber pagamentos digitais instantaneamente 24 horas por dia, 7 dias por semana, atraiu muitos bancos, empresas e consumidores. Isso é evidente pelo volume estimado de transações em tempo real de US$ 575,1 bilhões até 2028.

Empresas de médio porte dizem que o horário de lançamento no mesmo dia (80%) e a liquidação em tempo real (77%) são recursos críticos ou importantes para seus clientes. Para os comerciantes, 61% esperam que os RTPs ofereçam uma vantagem competitiva.

Quanto à eficiência de custo, os RTPs oferecem uma maneira de reduzir o custo de movimentação de dinheiro e podem ser mais baratos do que os canais de cartão de crédito. Esse é o caso das transações com Pix. Elas tendem a ter um custo de aceitação menor porque sua estrutura funciona com poucos intermediários, tornando-a uma opção atraente para consumidores e empresas conscientes dos custos.

O Pix, como outros canais de RTP, poderá ajudar a evitar multas por atraso e taxas de cheque especial. Também poderá eliminar devoluções e estornos para as empresas, porque os usuários só podem enviar dinheiro que têm em suas contas.

O recente aumento foi parcialmente impulsionado pela demanda dos negócios e dos clientes por pagamentos imediatos com compensação instantânea e liquidação mais rápida para reduzir a quantidade de dinheiro bloqueado no processamento, bem como melhorar a gestão de caixa e a liquidez.

Para os brasileiros, a conveniência é um diferencial. Eles só precisam de uma conta bancária ou carteira digital para usar o Pix e podem se cadastrar com seus e-mails e números de identidade nacional, entre outras maneiras. Isso promoveu a inclusão financeira para aqueles que não podiam ter acesso a cartões de crédito.

Por exemplo, antes do lançamento do Pix, cerca de 30% da população não tinha contas bancárias. Esse número caiu para menos de 10%.

“O comportamento do consumidor com serviços bancários e pagamentos mudou drasticamente no Brasil”, disse André de Paula, Country Manager da TSYS Brasil. “Muitas pessoas não tinham uma conta bancária há alguns anos. Agora, milhões não só percebem os benefícios dos pagamentos em tempo real, mas preferem usar o telefone para transações em vez de dinheiro e, em alguns casos, cartões de crédito e débito.”

RTPs vs. dinheiro e cartões

Do sistema de pagamento mais rápido do Reino Unido à nova plataforma de pagamentos da Austrália, a adoção de RTPs está se tornando uma realidade. O Pix e a Interface de Pagamentos Unificados da Índia, juntos, alcançaram recentemente quase 100 bilhões de transações, o que representa um total combinado de 61% das transações do mundo inteiro.

Nessas regiões, os RTPs estão ultrapassando os pagamentos com cartão como o método de pagamento mais popular. Com o Pix, as transações superaram as cobranças combinadas de cartões de crédito e débito em aproximadamente 23%.

Por quê? Mais uma vez, trata-se de custo e conveniência.

Em vez de tirar uma carteira, os brasileiros usam seu telefone para digitalizar um QR Code com um aplicativo bancário. Os resultados: de acordo com a empresa de pesquisa de comércio eletrônico Neotrust, os pedidos de varejo on-line pagos com Pix aumentaram 22 pontos percentuais em dois anos, para cerca de um terço de todas as compras em dezembro de 2023. Os pedidos com cartão de crédito, por sua vez, caíram 5% no mesmo período.

Outro fator são as taxas. O Pix custa em média 0,22% para cada transação para os varejistas, ao passo que as taxas de cartão de débito são superiores a 1% e as de cartão de crédito podem chegar a 2,2% de cada venda no Brasil, de acordo com um artigo do Bank of International Settlements.

Essas taxas apresentam desafios para o setor de cartões em termos de redução do uso, volume e receita de transações? As tendências falam por si: 76% dos consumidores brasileiros usam a plataforma de pagamento diariamente, em comparação com 51% usando cartões de crédito e 68% usando dinheiro.

O método de pagamento preferido da próxima geração?

A experiência do usuário é um foco fundamental para a adoção dos RTPs não apenas no Brasil, mas no mundo todo. É por isso que, em muitos países, os esforços têm sido parte de uma abordagem mais ampla para digitalizar a população.

Na verdade, há uma mudança para levar as economias para a era do banco digital com uma concentração no comércio eletrônico. Parte desse movimento envolve o papel das gerações mais jovens.

Na Europa, por exemplo, os possíveis benefícios financeiros dos pagamentos instantâneos já estão sendo projetados para jovens adultos, de acordo com um estudo.

Até mesmo o mercado indiano está observando do ponto de vista geracional. “Dois terços da população têm menos de 35 anos de idade”, disse Abhijit Singh, diretor de tecnologia e digital do HDFC Bank.1

Quanto ao Brasil e à América Latina como um todo, os fatores de RTPs para as gerações mais jovens incluem:

  • a criação de nativos digitais;
  • um desejo de conveniência, velocidade e soluções centradas em dispositivos móveis;
  • a geração Z é considerada a mais aberta a inovações de pagamento, e seu comportamento de gastos mostra que transações rápidas e fáceis são o método preferido;
  • o envolvimento em ecossistemas digitais onde os RTPs são comuns, como mercados de mídia social e ambientes de jogos. Esses ecossistemas geralmente disponibilizam de RTPs para facilitar as transações.

Um exemplo é a integração do Pix com o WhatsApp. A plataforma oferece às pessoas a capacidade de transferir dinheiro e enviar mensagens instantâneas, áudio, fotos e vídeos. No lado do pagamento, os bancos fornecem links para o cliente para que os usuários possam concluir suas compras sem sair do site da loja. Tudo isso é feito no aplicativo para uma experiência impecável. Entre a geração Z globalmente, o WhatsApp é classificado como o segundo aplicativo mais popular, atrás do Instagram.

Para Colômbia e além!

O Pix não é o único sistema RTP no mercado, mas mostra que há potencial inexplorado na América Latina.

Na Argentina, o Banco Central vem promovendo a iniciativa Transferencias 3.0. O objetivo é padronizar os pagamentos com QR Code para facilitar transações em tempo real em várias plataformas. O sistema financeiro da Colômbia também adotou RTPs por meio da plataforma Pagos Seguros en Línea (PSE).

Mesmo o México também tem um cenário RTP, dominado pelo Sistema de Pagos Electrónicos Interbancários (SPEI). Foi lançado pelo Banco do México em 2004. Mais recentemente, a plataforma de pagamentos digitais Cobro Digital (CoDi) foi introduzida para alavancar o SPEI para transações móveis.

Não importa qual sistema de RTP seja o preferido, a grande preocupação é como detectar fraudes durante esses 7 segundos em que o pagamento é processado.

Leia sobre fraude de RTPs na Parte 2 da nossa série de artigos de 2 partes sobre RTP em breve.

1. Abhijit Singh, diretor de tecnologia e digital, HDFC Bank, FICOWorld 2024, sessão geral em 17 de maio

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